Quando eu era
criança achava o brigadeiro uma coisa meio mágica. Aquela pequena bolinha bonitinha
era sinônimo de um prazer bem rápido, que cabia numa bocada e sumia, deixando
na mão apenas uma forminha amassada. Aquela forminha era, ao mesmo tempo,
testemunho do brigadeiro passado, e convite a um brigadeiro futuro.
Imaginava uma
confecção dificílima. Máquinas enormes, muita gente, um trabalho sem fim. Achava
eu que naquela bolinha havia milhares de ingredientes exóticos. Se não, por que
motivo não haveria brigadeiro todos os dias em casa? Por que ele seria uma
delícia restrita às festas de aniversário?
As explicações
da minha avó só reforçavam minhas idéias mirabolantes, estilo fantástico mundo
de bob, ela me explicou que dava muito trabalho enrolar as bolinhas, e que
aquela lata de brigadeiro que se vende no mercado não era a mesma coisa! O gosto
era diferente. Brigadeiro bom é brigadeiro feito na panela. Panela: eis aí uma
pista! Depois das enormes máquinas, o brigadeiro tinha que ir pra panela!
Brigadeiro não
era rotina na minha casa. Também não lembro de ter pedido, nem passava pela
minha cabeça que se tratasse de uma confecção tão artesanal, tão acessível, eu
achava que era uma coisa caríssima e complicadíssima! Impossível de se fazer em
casa.
Até que um dia
começou uma moda na escola: vender brigadeiros. Por apenas 50 centavos, eu
podia ter uma bolona, que dava pra morder 3 vezes! E foi aí que se desfez parte
do mistério. As meninas que levavam brigadeiro para vender, disseram que era
barato, dava um bom retorno, e era fácil. Foi aí que eu comecei a fazer
brigadeiro. As bolinhas eu nunca fiz, na verdade eu mal espero esfriar para
comer, mas ao longo das várias panelas de brigadeiro que já fiz, já não me
lembrava mais do quão difiícil eu achava que era.
Leite
condensado agora já faz parte da feira, em pleno dia de semana, em pleno dia de
trabalho, em pleno dia qualquer, eu posso fazer brigadeiro em casa. O que me faz
pensar em quantas coisas não são tão difíceis quanto parecem, em quantas coisas
sofisticadas e deliciosas, são simples, mas
é bom não saber disso sempre. Não sabendo, se imagina mais, e saber depois dá
aquele sustinho de “mentira que era só isso!”, e aí o “só isso” fica pra sempre
sendo muita coisa. Por isso não vou nem procurar no Google como se condensa o
leite. Meu palpite é que se precise de enormes máquinas, um trabalho sem fim, quem
sabe até alguns duendes...